Uma vez me disseram que o fotógrafo quando fica velho é que vai revirar seus arquivos. Bem, apesar de ser um jovem senhor, com um netinho lindo no currículo, não sou um fotógrafo velho. Já sobre os meus arquivos, aí sim, estou aproveitando em demasia essa quarentena para organizá-los.
Mexer nessas documentações é sempre muito prazeroso. Cada fotografia traz lembranças e histórias e, com isso, a memória ativa o modo túnel do tempo e lá embarco junto às emoções.
Ao abrir a pasta do Terreiro Raiz de Ayrá, Ògún se manifestou para mim na imagem de uma das pessoas mais especiais da minha vida. Regina e eu nos conhecemos em 1996, quando trabalhávamos no IPAC. Junto com Ana Cláudia, formamos um trio super entrosado, que vasculhava o Centro Histórico de Salvador, se envolvendo por completo com aquele lugar e com as pessoas que o frequentavam. Bastava terminar o expediente e caíamos nas farras do Pelourinho.
Época de ouro para a gente, quando o Centro Histórico iniciava a sua reestruturação. Até hoje não sei como conseguíamos dar tantos rolês pelas noites, sendo que nossos salários atrasavam até quatro meses... Mas, toda noite, lá estávamos nós, nos bares da vida como o NR Pub, Mestiço, Abará da Ró, Estação Pelô, Bar do Reggae, Novo Tempo... Assistíamos apresentações maravilhosas de Aloísio Menezes, Morrão Fumegante, Lazzo, Luiz Melodia... E quando os últimos bares fechavam, voltávamos pra casa de táxi, geralmente no fiado, com meu amigo Cacique. Éramos bem mais jovens que hoje, cheios de energia e com muitas responsabilidades.
Foi Regina, no São João de 1997, quem me apresentou o Terreiro Raíz de Ayrá, zelado pela sua tia, a Ìyálaṣé Mariá Kecy, onde me confirmei como Aṣogun. Quis o destino e Ògún, que Regi se iniciasse no mesmo Tempo, porém em outra casa de Ayrá, o Terreiro do Cobre, zelado pela Ìyáloriṣá Valnízia, se confirmando como Èkèjí de Òṣàlá.
É bom olhar essa fotografia e lembrar da nossa história, carregada de coisas boas. É bom olhar para a foto e daqui sentir o amor e a alegria por esses 25 anos de amizade.
Sua bênção, Èkèjí. Adúpẹ́, minha amiga.
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