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Foto do escritorTacun Lecy

Moronranti


Há quatro anos, o nascimento de Dener Júnior me puxava de volta para a vida depois de eu ter caído em um abismo sem fim com a passagem do meu filho para o Ọ̀run.

Do dia 6 de abril até o 26 de maio de 2016 eu vivi anestesiado, agindo de forma mecânica para todas coisas que eu precisava resolver, desde o sepultamento e documentações do Dener, até todas as providências para a chegada do seu filhinho, que já estava para nascer, com Dandara no oitavo mês de gravidez. Não tive espaço para viver o luto e nem para refletir sobre aquele pesadelo, tão pouco para buscar as conexões, mas confesso que todas aquelas obrigações não me deixaram ficar no chão por completo; mesmo porque, apenas eu poderia resolvê-las.

Até hoje não sei expressar o que foi aquele dia do nascimento de Deninho. Havia uma mistura de alegria pela sua chagada, mas tinha uma tristeza por não ter a presença de meu filho naquele momento especial e que ele tanto me falava em viver. O fato é que com a saída da maternidade e o retorno para casa, o mundo voltou a desabar em minha cabeça novamente. Era como se as energias que me mantinham em pé tivessem se dissipado e lá estava eu novamente, de cara com a realidade imposta por Ìkú.

A partir daí começaram as buscas por respostas, com muitos momentos de reflexão para tentar encontrar motivos para tudo. Senti muito perto a presença de Erinlẹ̀, Ọ̀ṣun, Yemọja e Ògún. Através de Èṣu chegou um primeiro caminho. Mas ainda não era o que eu buscava. Tentei manter o equilíbrio, na esperança de encontrar algo em um sonho, ou num chamado. Mas tudo que chegava, era sempre um paliativo para o vazio em mim.

Pouco tempo passou até que um dia Paula Gomes, embaixadora cultural do império de Ọ́yó entrou em contato comigo. Nos conhecemos durante a visita do Alaafin de Ọ́yó à Bahia, em 2014 e nos aproximamos depois que eles solicitaram fotografias minhas para o documento que pleiteia o tombamento de Ọ́yó como Patrimônio da Humanidade, pela Unesco. A Paula veio se solidarizar comigo e minha família com todos os acontecimentos e, nessa conversa, ela ficou sabendo do nascimento do meu neto.

Ao contar toda a história, Paula sugeriu que Deninho poderia ser um Babatunde, termo iorubá que significa “o pai retorna”, ou “um pai retornou”, e que se refere a um ancestral masculino, como pai, avô ou bisavô, que retorna como a criança. Confessei que havia pensado naquela possibilidade, mas quando Dener fez a passagem, o seu filho já estava para nascer e que, por isso, acreditava que não fosse possível. Então Paula me perguntou se eu gostaria que ela falasse com os sacerdotes de Ṣàngó para que consultassem o oráculo, e eu consenti.

Em menos de 15 dias o meu Skype chamou. A Paula trazia a resposta: “Tacun, os sacerdotes de Ṣàngó confirmaram que seu neto não é o Babatude. Eles mandaram dizer a você que seu neto é um Moronranti... Aquele que para vir, o pai tem de partir.

Nunca esquecerei desse dia, quando a maior de todas as respostas me foi revelada, preenchendo o vazio de muitas dúvidas que eu carregava. Uma resposta que me fez entender todos os processos daqueles acontecimentos e que deu outro sentido à minha vida. Uma resposta que compartilho aqui, com vocês e que vai ser entregue a Deninho quando chegar o tempo de ele entender essa passagem.

Feliz aniversário, Deninho! Adúpẹ́, Paula! Adúpẹ́, Povo de Ṣàngó!

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