A manhã dessa quinta-feira chegou sem o mais belo canto das suas Águas Doces.
Ainda era madrugada quando o papagaio louro veio visitar a sua Iaiá.
Dessa vez não veio comer, tão pouco jantar.
Dessa vez, veio a pedido de Olorum...
Ele chegou ainda antes de o galo cantar.
Do contrário, correria o risco de ser mandado embora por ela.
Dessa vez, veio para conduzi-la ao Orum.
Ao chegar, foi recebida pelo Mestre Erenilton.
Os couros dobraram em reverência.
A música de lá precisava de mais harmonia.
Precisava... Não mais agora.
Agora, Iaiá Walquiria está por lá.
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Vejo esses velhos fazendo suas passagens e meu coração aperta cada vez mais. Tantas histórias, tantos saberes... Vidas de dedicação aos Orixás. Vidas de outros Tempos. Com cada um deles podia-se (e ainda se pode) aprender muito, apenas com a vivência. Bastava estarmos de corpo e alma conectados à fé deles. Isso me parece cada vez mais diferente dentro dos candomblés.
Existe uma expressão antiga (tinha de ser) que, quando queríamos nos referir a alguém que tinha muito conhecimento ou que era muito bom em algo dizíamos: “é lá que as cobras dormem”. Pois bem, no que se refere à beleza dos toques e cânticos para Orixás, literalmente, a Casa de Oxumarê era e é a morada dessas Dãs!
Hoje, meu coração e meus pensamentos estão com as famílias de Mãe Walquíria de Oxum.
Gratidão pelo carinho, pela atenção e pelos cantos dengosos sempre dispensados a mim quando nos encontrávamos.
Que seu papagaio louro a conduza na luz, Iaiá!
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🎼 ...
Que hora você chegou, meu papagaio louro?
Eu cheguei de madrugada, depois que o galo cantou.
Meu papagaio louro é de Iaiá...
Ô louro, você já comeu?
Eu não, que Iaiá não me deu.
Ô louro, você já jantou?
Eu não, que Iaiá não botou.
Ô louro, você vá embora!
Eu não, que eu cheguei agora de manhã.
... 🎼
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🎼 Link para a cantiga: https://www.youtube.com/watch?v=WsP1ZM9jZfM
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Lindos versos a Mãe Walquíria! Que Oxum a embale num córrego de luz!