Eu não saberia descrever a sensação de uma criança no seu primeiro contato com os Orixás manifestados. Criado em uma família católica, apesar de não ter presenciado ataques às religiões afro-brasileiras, meus parentes nunca me levaram a um terreiro. Tive de caminhar com os meus pés para chegar a um candomblé.
A primeira experiência só viria acontecer aos 22 anos, levado por Ògún, quando cheguei ao Terreiro Raiz de Ayrá. No outro ano levei Dener — meu filho, na época com 4 anos — para uma festa na mesma Casa e, desde aquele dia, eu entendi que a chave para o respeito está em nos permitir experimentar novas vivências e que isso deve ser uma prática compartilhada com os nossos próximos e que possamos garantir essencialmente esse direito aos nossos filhos.
Lembro das reações de Dener, encantado e curioso por tudo. Seus suspiros, suas risadas, seus olhares... A forma como ficava solto em alguns momentos e em outros vinha para bem perto, segurar minha mão ou se abraçar em minhas pernas e se escondendo... Ali, a sua pureza estava conectada às energias de cada Orixá que, conforme se manifestavam no barracão, lhe causavam as sensações de leveza ou apreensão. Depois, vieram as perguntas e lembro bem como foi mais tranquilo poder conversar com ele sobre tudo aquilo.
Diferente de mim, Dener não seguiu no candomblé e teve a liberdade para trilhar o seu caminho. Mas as experiências que ele pode ter e sentir, lhe permitiram viver e tratar com respeito todas as relações religiosas.
No Recôncavo, as crianças sempre tiveram esse contato com o candomblé. Desde muito cedo elas já estão pelos barracões. Correndo, se escondendo, observando, cantando, tocando, dançando... Tudo na naturalidade dos seus cotidianos. A elas os segredos são revelados de outras formas, na ludicidade da tradição oral das culturas religiosas afro-brasileiras. São como rainhas e reis que, protegidos pelo mais velhos dos terreiros, irão aprender, carregar e proteger o nosso Axé. Temos de apostar nisso.
Tudo acontece no seu Tempo... E eu, como não sou menino, seguirei observando, documentando e contando essas histórias.
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Todo menino é um rei
Eu, também, já fui rei
Mas, quá... Despertei!
Por cima do mar da ilusão
Eu naveguei... Só, em vão
Não encontrei o amor que eu sonhei
Nos meus tempos de menino
Porém, menino sonha demais
Menino sonha com coisas
Que a gente cresce e não vê jamais
Todo menino é um rei
Eu, também, já fui rei
Mas, quá... Despertei!
A vida que eu sonhei
No tempo que eu era só
Nada mais do que menino
Menino pensando só
No reino do amanhã
Na deusa do amor maior
Nas caminhadas sem pedras
No rumo sem ter um nó
Todo menino é um rei
Eu, também, já fui rei
Mas, quá... Despertei!
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🎼 Música "Todo menino é um rei", cantada por Roberto Ribeiro e outros artistas.
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